— É muito cedo ainda, meu filho, deixe pra escolher depois.
Eu arqueava a minha boca interrogante, sem saber o que dizer. Ela então arrastava seus chinelos cansados até o fogão, e gritava lá do fundo da cozinha, insuperável:
— Hoje vou te dar dois pedaços...
Era minha maior alegria!
O copo de café com leite, transbordando à minha frente, parecia uma escultura. Eu tamborilava meus dedos impacientes na toalha de linho branca bordada por Tia Yole. Sinto ainda hoje o gosto do fubá na minha boca, esfarelando, o cheirinho do queijo derretido em palha de milho na chapa negra do fogão de lenha. Olho para trás e vejo claramente minha vó Vitalina, com a boca no bico do bule, tomando café e sorrindo pra mim...
Marinheiro não fui — muito longe era o mar. Hemingway bem que tentou me convencer...
Mas agora, quando armo a lona do meu circo, subo no trapézio, passo talco e risco em minhas mãos, seguro firme nas cordas, tomo impulso para o salto, olho meus amores na platéia — e fico pensando nas escolhas que hoje posso fazer na Vida.
E me lembro de novo do velho conselho:
— Meu filho... É muito cedo ainda pra decidir.
(Saudades da minha vó Vitalina.)