15.11.01
Chafariz de sangue.
Niemeyer projetou transformar o antigo DOI-Codi numa simbólica praça de protesto contra a violência e as torturas que ali se praticaram durante a ditadura militar. A idéia básica é termos vários pavimentos, com auditórios, cinemas, museu. À frente do prédio, o espaço aberto, amplo. No centro da praça, um enorme círculo negro. A escultura de um operário torturado faria a recepção das consciências que ali chegarem. Para não deixar morrer a lembrança daquele período triste da história do Brasil, seria uma escultura quase viva, brilhante. Vi no esboço feito por Niemeyer que o operário estará deitado sobre um balcão, com os braços caídos e a cabeça desesperadamente pensa, como se refletisse um golpe.
Sugiro, querido Oscar, que o balcão seja em forma de cruz, e que do peito do operário brote um chafariz de sangue. Às vezes, a metáfora tem que ser mais direta que sutil. Porque o operário sempre é torturado, ora por medo, ora pela polícia, ora pelo patrão. Ora por Deus, ora por Nada.
E nós, que ainda acreditamos ser possível salvar uma classe com finesse, temos que denunciar toda forma de barbárie e de opressão.
Que viva o Operário Torturado!
E que não se esqueça de construir um painel com um gigantesco cartão de ponto já batido, gotejando suores e esperanças.