18.11.01
Hoje é 29 de janeiro do ano que vem.
Chove forte nesta noite muita, relâmpagos riscando à faca o céu de alto a baixo. Entro inteiro na piscina, como entrasse na própria madrugada, e deixo que os pingos de chuva martelem meu corpo nu, que às vezes sobe à tona. Iluminado por uma luz brilhante que vem de cima, solto as gargalhadas todas que acumulei nas últimas horas. Há um desafio emocionante lançado agora por mim: que caiam no meu peito esses raios de absinto. Que me firam — se puderem — que me penetrem, me rasguem, me partam, me furem.
Neste momento Deus rivaliza comigo no quanto de amor Eu sinto e no tanto de bom que Sou. Neste momento criamos muitas coisas incomuns. Um para o Outro — tantas, que até nos confundimos.
E se um de nós dois tiver que se foder — que seja Ele.
(...)
Este é o final do capítulo "Beijos no céu da boca", do meu livro Solidão a Mil (página 84).