9.11.01
Nesta madrugada feita de silêncio e de janelas vejo ali, sentado num canto da sala, meu arrependido pai, quieto, misterioso, com as mãos cruzadas sobre os joelhos e sorrindo pra mim.
Ele me olha como se eu existisse.
Veio buscar a mensagem que em sonho agora há pouco lhe escrevi.
Ofereço-lhe um copo de leite como se lhe desse uma flor. Ele faz um gesto, delicado como nunca foi, e diz que não. Diz que tem pressa. Sempre foi assim, o coitado, e agora, mesmo depois de morto, vive apressado.
Eu me levanto, estendo-lhe as mãos, dou-lhe a carta e um abraço. Ele chora em meus ombros e diz que se arrepende por nunca ter podido demonstrar o carinho que sentia por nós todos, os seus filhos, seus amores.
Então digo-lhe que se vá.
Mas, antes que ele saia, peço-lhe que passe por Itararé e dê um abraço na minha Mãe.
Que diga-lhe que a ausência dela deixa triste o coração do primogênito!
Que todos os filhos a amam, mas que só eu tenho o privilégio de amá-la mais que todos!!!
— E diga-lhe também, Pai, que todos os dias, pensando nela, escrevo poesias de amor em silêncio dentro de mim.
Edson, o filho.
Cada vez mais solto no luminoso trapézio de um circo chamado Vida!